sexta-feira, 20 de junho de 2008

Comunicação, poder e atualidade: um breve ensaio


Por João Guilherme Cunha e Vallo e Natália Braga Possas


Comunicação é poder, isso não é novidade. Também não há nada de surpreendente em perceber que existe uma proporção direta entre esse poder e as pessoas atingidas pelas mensagens, os receptores.

Esta antiga relação de controle, difusão e mídia ainda é absoluta. Todavia, nossa era apresenta um novo fenômeno: o aumento da participação do consumidor na produção e difusão de bens culturais. Em outras palavras, o receptor adquire maior poder na medida em que ganha espaço nos meios de comunicação de massa.

Henry Jenkins (2006) chama isso de cultura participativa. Jenkins é co-diretor do Comparative Studies Media Program e idealizador da ‘era da convergência’. Ele defende que a idéia de convergência envolve não apenas a fusão de várias mídias em um único aparelho, ou a junção de tecnologias (o que é fato no desenvolvimento tecnológico atual), mas sim, uma mudança cultural na nossa sociedade.

Essa nova cultura diverge da cultura de massa, especialmente, quanto a uma audiência passiva. Jenkins analisa que, na sociedade contemporânea, produtores e consumidores são todos “participantes”, apesar de terem diferentes probabilidades de interação, as quais ainda não são estimáveis (em números).

De acordo com esse pensamento, ninguém tem o mesmo poder para comunicar, mas todos estão interagindo, entre si e com as novas tecnologias. Podemos dizer também que, para Jenkins, surgiram novas regras culturais ainda não definidas. Normas que regulam a divisão do poder e que certamente não são igualitárias.

Logo, os limites da atuação dos “participantes” ainda não se apresentam claros, mas ele existe, e denota cada vez mais competitividade. Isso se dá porque um grupo maior de pessoas está apto a escolher e criar bens culturais que os agradem.

Jenkins cita também o conceito de ‘inteligência coletiva’, do “ciberteórico” Pierre Lévy: “Nenhum de nós sabe tudo, cada um de nós sabe algo; e podemos juntar as peças, associando nossos recursos e unindo nossas habilidades”.

A inteligência coletiva é uma nova fonte de poder midiático ‘sem fronteiras’. É a oportunidade que temos para influir na produção da poderosa indústria cultural, já abalada pelo movimento de inclusão.

Henry Jenkins diz que “os impérios monolíticos de comunicações estão se dissolvendo numa série de indústrias de fundo de quintal”, e que “As forças combinadas da tecnologia e da natureza humana acabarão por impor a pluralidade com muito mais vigor do que quaisquer leis que o Congresso possa inventar”.

Essa liberdade de participação geradora de poder sobre a qual falamos neste texto é abordada não só por Jenkins. Outro autor preocupado em entender os fenômenos recentes da comunicação é Manuel Castells (1999). Contudo, sua opinião desperta o aspecto crítico e segregador da reflexão sobre interatividade.

Para Castells nosso acesso é limitado de acordo com o poder aquisitivo. Nos é transmitido o que é de interesse que saibamos e, caso tenhamos necessidade de buscar outras fontes, será necessário maior investimento.

Um exemplo disso é a Internet, pois quanto maior o valor pago, maior a velocidade e a possibilidade de “navegar” por sites diversos. Outro exemplo é a TV digital, que funcionará da mesma forma. Muitos terão acesso limitado. Ou seja, mais uma vez, poucos deterão a informação e, consequentemente, o poder.

Entretanto, considerando o avanço tecnológico, Castells ressalva que: “As novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos. Usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa (mesmo raciocínio de Jenkins). Dessa forma, os usuários podem assumir o controle da tecnologia como no caso da Internet.

Outra grande diferença é que Jenkins reconhece a cultura participativa e a convergência – e, portanto, as relações de poder envolvidas – como uma novidade. Manuel Castells acredita que esta não é uma questão contemporânea. Sobre isso, ele afirma que: “A integração crescente entre mentes e máquinas, inclusive a máquina de DNA, está [e sempre esteve] alterando fundamentalmente o modo pelo qual nascemos, vivemos, aprendemos, trabalhamos, consumimos, sonhamos, lutamos ou morremos”.

Referências:
- A Revolução da Tecnologia da Informação. In: CASTELLS, Manuel. (1999), A sociedade em rede - a era da informação: economia, sociedade e cultura, v1. Tradução Roneide Venâncio Majer. São Paulo: Paz e Terra.
- “Venere a Convergência”- Um Novo Paradigma para Entender a Transformação das Mídias. In: JENKYNS, Henri, (2006), Convergence Culture: where old and new media collide. New York: New York University Press. Tradução de Érico Gonçalves de Assis.


Este texto corresponde a um trabalho sobre Comunicação e Tecnologia, apresentado à disciplina homônima, ministrada pelo Professor Ricardo Bedendo, no curso de Comunicação Social do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora.

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